JARDIM, Alberto Figueira
Funchal, 10/10/1882 - Funchal, 24/12/1970
Autor do livro “As Artes Novas e o Conceito do Belo”. Alberto Figueira Jardim foi um intelectual, com obra publicada sobre a filosofia da arte e da música, com oposição entre o “tradicionalismo” e o movimento da arte moderna, “expressionismo abstrato”.

Alberto F. Jardim formou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Após concluir o curso foi professor do Liceu Normal Pedro Nunes, em Lisboa, e reitor do Liceu Jaime Moniz no Funchal.
No campo político exerceu as funções de presidente da Junta Geral do Funchal e foi vereador da Câmara Municipal do Funchal.
Apesar da sua atividade profissional estar pouco ligada às artes, Alberto F. Jardim demonstra no seu livro “As Artes Novas e o Conceito do Belo”, concluído em 1959, um profundo conhecimento dos problemas do mundo artístico nos anos 50 do século XX e apresenta sugestões interessantes e despretensiosas para alguns desses problemas. Um documento repleto de reflexões fundamentadas, principalmente com base nas artes inglesas, cuja realidade o autor conhecia.
O problema central do livro, como demonstra o título, centra-se nas fortes mudanças ocorridas nas artes e no conceito de “Belo”, principalmente ao longo da primeira metade do século XX. Deste modo, o autor parte da “cisão profunda” ocorrida no “campo do pensamento estético”, que levou a uma separação – existente noutras épocas, mas mais violenta neste período – entre os partidários da inovação (movimento que apelida de “expressionismo abstrato”) e os defensores da tradição (movimento apelidado de “tradicionalismo”).
Alberto F. Jardim não toma de forma clara posição por nenhuma das partes, mas defende teses interessantes que demonstram a sua posição “tradicionalista” no domínio da arte musical. Em primeiro lugar, critica a proposta de reeducação em massa, generalizada e universal proposta pelos “expressionistas abstractos”. Quando a maior parte dos músicos clássicos passou a queixar-se que o público não os compreendia e que a solução era educá-lo, Alberto F. Jardim argumentava que isso “não é possível, nem justo”, visto que a música é a “única abstracção que o ser humano percebe instintivamente”, não sendo necessárias explicações quando a música é boa. Assim, para o autor madeirense o problema não consistia no público, mas nas desarmonias da nova música, que os músicos criavam para refletir a sociedade moderna: de máquinas e ruídos mecânicos.
A conclusão do advogado madeirense é curiosa e humorada, firmando-se numa crítica à arte imitativa e reflexo da sociedade: “se a arte em vez de os imitar [os ruídos mecânicos e mil barulhos prejudiciais] nos oferecesse o alívio dum contraste (…) seriam benfazejos os seus esforços. Mas não somos tão utopistas que o esperemos. Os nossos anelos nesse sentido são platónicos”.
Esteireiro, Paulo (2008). "Alberto Figueira Jardim". In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, pp. 47-48.
Ventura, Ana (2011). "JARDIM, Alberto Figueira". Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 23/09/2011.