PAIVA, Manuel Joaquim de
Porto Moniz, 06/10/1867 - Funchal, 24/07/1935
Mestre de Capela da Sé, professor de Música e Cantochão do Seminário. Manuel Joaquim de Paiva orientou a edição de uma coleção cânticos intitulados Melodias Sacras, de acordo com as regras do Motu Proprio. Um decreto criado pelo papa Pio X, com o objetivo de proscrever da Igreja Católica a música teatral baseada nas melodias de óperas.
Natural do Porto Moniz, Manuel Joaquim de Paiva foi uma personalidade de referência da comunidade religiosa madeirense, que contribuiu para a reforma da música sacra realizada na primeira metade do século XX, na Madeira. No plano musical também desemepnhou funções como Mestre de Capela da Sé e professor de Música e Cantochão do Seminário.
Manuel Joaquim Paiva frequentou e concluiu com distinção o curso do Seminário Diocesano do Funchal em 1891 e foi pároco de várias freguesias da diocese, tendo-lhe sido atribuído o título de monsenhor pelo papa Bento XV, que o nomeou capelão honorário extra urban, com as honras de monsenhor.
A atividade musical de Manuel Joaquim de Paiva foi marcada por uma das principais reformas musicais da história da Igreja Cristã Ocidental: o Motu Proprio imposto pelo papa Pio X, a 22 de Novembro de 1903. Em consequência deste documento a música sacra do século XX sofreu uma enorme revolução em relação música sacra criada no século XIX. O papa deu orientações precisas para banir da igreja toda a música teatral de estilo florido, baseada nas melodias das óperas mais conhecidas, com todos os seus recitativos, fiorituras no canto e no acompanhamento.
Na prática, esta orientação excluía parte importante do repertório musical religioso em uso nas Igrejas, visto que as obras musicais utilizadas pouco diferiam das sinfonias e as árias vocais compostas para óperas. Muitas vezes, inclusivamente, eram utilizadas aberturas musicais de óperas em missas solenes, uma situação que se manteve ao longo do século XX mesmo com o Motu Próprio.
A proximidade entre a música sacra e a música teatral foi testemunhada por vários estrangeiros que visitavam a Madeira e que nos seus relatos afirmavam estranhar o modo como em Portugal a música de igreja em pouco ou nada se diferenciava da música operática.
Na Madeira, a nova música pós-Motu Proprio foi marcada pela orientação de Manuel Joaquim Paiva, que esteve na liderança desta mudança em dois momentos.
Em 1908 foi a personalidade religiosa que orientou a edição de uma nova coleção de cânticos intitulada Melodias Sacras, que foi organizada de acordo com as caraterísticas estabelecidas pelo “Motu Proprio” de 1903. Na equipa que realizou esta coleção sob a sua orientação, encontravam-se alguns seminaristas que vieram a ser figuras de destaque da música sacra madeirense ao longo da primeira metade do século XX: o José Bebiano da Paixão; Fernando Meneses Vaz; Sebastião Antero Gonçalves e Antonino César Gouveia Valente.
O segundo momento marcante desta revolução na música sacra aconteceu em 1918, quando o bispo do Funchal, António Pereira Ribeiro, criou por decreto a Comissão Diocesana de Música Sacra. Manuel Joaquim Paiva era um dos três elementos desta Comissão, que tinha como uma das principais competências, segundo João Arnaldo Rufino da Silva, no seu artigo "Um século de Música Religiosa na Madeira", Revista Islenha N.º 39: "examinar as músicas a serem cantadas, o modo de as executar, a qualidade exigida aos cantores, a permissão dos cânticos em língua vulgar e acompanhamento do órgão e outros instrumentos durante as funções litúrgicas".
Curiosamente, a atitude censória por parte da igreja teve consequências positivas na música sacra madeirense, visto que incentivou a criação musical dos padres com conhecimentos musicais. Impedidos de utilizar as músicas que haviam dominado a liturgia durante o século XIX, acabaram por compor várias obras musicais originais de acordo com os preceitos do Motu Proprio.
Esteireiro, Paulo (2008). "Manuel Joaquim de Paiva". In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística.
Ventura, Ana (2011). "PAIVA, Manuel Joaquim de". In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, 20/10/2011.
ESTEIREIRO, Paulo (2008). "Manuel Joaquim de Paiva". In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, pp. 29-30.
SILVA, João Arnaldo Rufino (2006). "Um século de Música Religiosa na Madeira". In Revista Islenha, N.º 39 (Julho-Dezembro 2006). Funchal: Direção Regional dos Assuntos Culturais, pp. 7, 9, 11.