GOMES, João dos Reis

Resumo:

Funchal, 1869 – Funchal, 1950

João dos Reis Gomes foi um oficial do exército, formado em engenharia, escritor, professor, ator, encenador, crítico e filósofo de arte tendo dedicado alguns dos seus escritos à música.

Biografia:

 

joao_reis_gomesNascido no Funchal em 1869, na freguesia de São Pedro, João dos Reis Gomes era filho de João Gomes Bento e de Maria Gertrudes de Castro Gomes Bento.
Com 17 anos, em 1886, integrou o exército como voluntário no Regimento de Caçadores 12. Em 1887 estabeleceu-se em Lisboa, após realizar matricula na Escola Politécnica, para frequência no curso de oficial de artilharia. Após o termino deste curso transitou para a Escola do Exército, para realizar o curso de Arma e Artilharia e o diploma de engenheiro industrial. Na sua formação académica militar obteve nas mais altas classificações.
No que diz respeito à sua vida pessoal casou com Maria Dulce da Câmara de Meneses Alves com que teve um filho: Álvaro de Meneses Alves Reis Gomes.
A sua carreira na área do ensino teve início em 1910, cumulativamente com a carreira do exército, que na época estava em pleno exercício, uma vez que, João do Reis Gomes integrou o quadro de arma entre 1892 e 1917, data em que passou á reserva. O ensino foi uma constante ao longo do seu percurso até 1939, data em que se retirou. Lecionou no Liceu do Funchal e Escola Industrial e Comercial do Funchal.
Em 1913, no Teatro Funchalense, levou à cena a peça da sua autoria Guiomar Teixeira que, segundo Rui Carita e Luís Sousa e Melo, foi a primeira obra teatral a introduzir “o cinema como apoio à acção da peça representada.

Na década de 1910 João Reis dedicou também a sua atividade profissional ao teatro, com a estreia da peça Guiomar Teixeira, em 1913 no Teatro Municipal do Funchal; e à filosofia das artes e da música em especial. No âmbito desse trabalho publicou, em 1919, um esboço filosófico intitulado A Música e o Teatro, onde defendeu algumas teses sobre a arte musical.
No plano da estética musical o livro A Música e o Teatro apresenta várias teses “modernas”, de cariz “anti-romântico”, que demonstram intelectualidade de João dos Reis Gomes e a sua capacidade para acompanhar as novas tendências e preocupações estéticas do início do século XX.
Assim, A Música e o Teatro reflete três teses de João dos Reis Gomes que demonstram bem a sua rejeição da estética romântica do século XIX e a apologia: crítica à arte elitista para apenas alguns sábios e defesa de uma arte democrática e popular; valorização do papel da arte como reflexo da sociedade; necessidade de fundamentar a teoria musical em princípios científicos.  
A enunciação destas teses é realizada pelo major Reis Gomes de um modo extremamente claro. Numa primeira fase o autor madeirense critica os intimistas e elitistas que defendem que “a arte para ser grande e até nobre, tem de ser solitária e transcendente apanágio de alguns raros fiéis ou iniciados”; em segundo plano pretende provar que a música é reflexo da sociedade, utilizando os exemplos de Handel – que considera “um eco do espírito da Reforma”; Mozart – reflexo do “oiro da época de Luís XIV”; Beethoven – reflexo da “geral exaltação do século XVIII”.
Em última análise João dos Reis Gomes procura bases científicas para o fenómeno musical, defendendo uma “teoria que baseia a arte [musical] na fisiologia auditivo-cerebral”, que segundo Reis Gomes, é “uma ‘natural’ necessidade da vida nervosa emotiva”.

João Gomes dos Reis também escreveu e publicou: O Teatro e o Actor, 1905; Histórias Simples, 1907; A Filha de Tristão das Damas, 1909; Monografias Industriais Peculiares à Madeira, na revista Serões de Lisboa, 1909-1910; Guiomar Teixeira, peça de teatro com estreia em 1912; Acústica Fisiológica, 1922; Forças Psíquicas, 1925; O Belo Natural e Artísticos, 1928; Através da França, Suiça e Itália, 1929; Três Capitais de Espanha, Burgos, Toledo e Sevilha, 1931; O Anel do Imperador (Napoleão e a Madeira), 1934; Natais, contos e narrativas, publicado em 1935; O Vinho da Madeira, como se Prepara um Néctar, 1937; Casas Madeirenses, um livro criado com o apoio do arquiteto Edmundo Tavares, 1937; De Bom Humor, 1942; Casos de Tecnologia, 1943; O Cavaleiro de Santa Catarina, 1947; A Lenda de Lorely, 1948; Através da Alemanha, 1949.

João dos Reis Gomes também colaborou com diversos periódicos de Lisboa como jornalista, entre os quais O Século, O Dia e Serões. Na imprensa Madeirense foi diretor no Heraldo da Madeira e “Diário da Madeira”.

 

Autoria:

Esteireiro, Paulo (2008). “João dos Reis Gomes”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística.

Atualização:

Ventura, Ana (2011). “GOMES, João dos Reis”. In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 20/10/2011.

Bibliografia:

CARITA, Rui e MELO, Luís Francisco de Sousa e (1988). 100 Anos do Teatro Municipal Baltazar Dias. Funchal: Câmara Municipal do Funchal.

 

CLODE, Luiz Peter (1983). Registo Bio-Bibliográfico de Madeirenses Sécs. XIX e XX. Funchal: Caixa Económica do Funchal, pp. 400-401.

 

 

ESTEIREIRO, Paulo (2008). “João dos Reis Gomes.” In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, pp. 34-35.

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