SANTOS, Duarte Joaquim dos
Olivença, 1801 - (?), 1855
Compositor e intérprete de piano, órgão, harpa e clarinete.
Duarte Joaquim dos Santos foi um dos músicos madeirenses mais ativos e influentes no segundo quartel do Século XIX, referenciado diversas vezes em periódicos da época. Natural de Olivença D.J. dos Santos, como era conhecido devido à abreviatura utilizada para assinar as suas composições, faleceu no Funchal em 1855.
Antes de fixar residência na Madeira exerceu a sua prática musical na Irmandade de Santa Cecília como organista e exerceu prática musical em Lisboa, onde residia na Rua do Tesouro Velho, atual Rua António Maria Cardoso, situada na freguesia dos Mártires. Apresentou-se também em concerto no Porto, a 9 de Setembro de 1826, com as suas primeiras composições conhecidas: um concerto para piano, um solo de harpa e variações para flauta e piano.
Algumas obras de D.J. dos Santos foram publicadas pelo autor na Lithografia Armazem de Musica da Casa Real: entre as composições constam algumas quadrilhas, quatro das quais estão em depósito na Biblioteca Nacional de Lisboa.
As primeiras notícias referentes à atividade de D.J. dos Santos na Madeira datam de 1 Dezembro de 1827, na crítica ao concerto em benefício de Carlos Guigou realizado no Teatro do Bom Gosto, a 28 de Novembro de 1827. O jornal Defensor da Liberdade referiu que a "Symphonia do Sr. Duarte Joaquim dos Santos, pela primeira vez tocada, faz grande honra ao seu Author, e se não fosse parecer importunas, muitas pessoas vimos nós com grandes desejos de a vêr repetida. O Concerto do mesmo Sr. no Piano mereceo-lhe os mais bem devidos applausos. O Sr. Joaquim dos Santos no seu Concerto de Clarineta deo novas provas às muitas passadas de quanto he insigne no seu instrumento".
A dedicatória de algumas obras impressas em Londres a personalidades da sociedade madeirense permite definir o seu percurso com uma passagem por Londres após um período de residência na Madeira em 1827.
Em Londres Duarte Joaquim dos Santos foi convidado para lecionar num colégio feminino através de uma carta de recomendação de João Domingos Bomtempo. Durante a sua estadia em Inglaterra o músico foi também professor de piano de D. Maria II, que residiu em Londres entre 7 de Outubro de 1828 e 30 de Agosto de 1829 e em 1831. A referência ao ensino de D. Maria II permite considerar com justificação a estadia de D.J. dos Santos em Londres durante o mesmo período.
Um fato reforçado pela publicação da peça Les Souvenirs du Mont, em que o músico alude a uma Quinta situada na freguesia do Monte, no Funchal. Esta peça encontra-se datada de cerca de 1830 pela British Library.
Apesar da sua atividade como professor o desempenho profissional de D. J. dos Santos em Londres ficou reconhecido como compositor, publicado por editoras como Payne & Hopkins, R. Cocks & Co., Jeffreys & Co., que deram a conhecer cerca de 60 peças do pianista. Entre as suas obras publicadas remanescem na British Library obras para piano solo e a 4 mãos: quadrilhas; valsas; divertimentos; um capricho sobre temas das óperas de Carl Maria von Weber; transcrições de árias; e uma peça sacra para coro e órgão, intitulada Alma, redemptoris mater. O seu trabalho com os temas de ópera, quer na composição ou transcrição de árias para piano revela um grau de dificuldade técnica bastante desenvolvido.
Após a sua passagem por Londres regressou à Madeira no início da década de 1840, de acordo com referência à composição de uma peça sacra por D. J. dos Santos em 1844: Novena a Santa Cecília, composta para as festividades religiosas da Padroeira dos Músicos, celebradas a 22 de Novembro.
Em 1847 o jornal "O Defensor da Liberdade" publicou na sua edição de 1 de Maio a referência ao "Hino ao Governador" composto por Duarte Joaquim dos Santos, dedicado a José Silvestre Ribeiro. Uma peça para vozes e orquestra, com letra de Teixeira Monteiro, para o final de um Prólogo ao drama Trinta Anos ou A Vida d'um Jogador representado no Teatro Concórdia.
"O Defensor da Liberdade" referiu este trabalho como um "Um bello Hymno dedicado a este digno Chefe, cuja música foi composta pelo mui hábil Professor o Snr. Duarte Joaquim dos Santos, e cuja letra foi obra do Snr. Monteiro, tocado pela Orchestra, e cantado, primorosamente pelos Snrs. Medina, Escorsio, Santos e Dias d’Almeida (...)".
Duarte Joaquim dos Santos apresentou-se frequentemente como pianista em iniciativas musicais madeirenses, nomeadamente como acompanhador de outros músicos, entre os quais: César Augusto Casella, um violoncelista de passagem pela Madeira entre Dezembro de 1850 e Janeiro de 1851 e também participou nos concertos de beneficência de Júlia de França Neto, entre 1854 e 1855. A produção de música trivial, sobretudo para danças, alude à participação de Duarte Joaquim dos Santos nos bailes da sociedade madeirense. Tendo em atenção a sua capacidade interpretativa de piano e clarinete, D.J. dos Santos integrou orquestras de salão madeirenses, como intérprete e regente, como era prática comum nos músicos que desempenhavam e componham este género de repertório.
Pinto, Rui Magno (2008). “Duarte Joaquim dos Santos”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, p.1-3.
Ventura, Ana (2011). “SANTOS, Duarte Joaquim dos”. Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 19/09/2011.